terça-feira, 22 de março de 2011

Experiência de vida


É engraçada essa história sobre quem tem mais experiência de vida. Pergunte a uma feminista se ela tem experiência de vida e ela responderá confiante, que sim, pois trabalhou se fez na vida e é independente. Da mesma forma que ao perguntar a uma dona de casa se ela tem experiência de vida ela responderá que sim, pois criou seus filhos muito bem criados, e sempre ajudou em todos os problemas familiares. Cada um é experiente no modo em como viveu. Não adianta ir perguntar a sua tia solteirona como faz pra se achar um marido, pois ela pode ser experiente, mas não nessa área. Para ser experiente na vida é quase como se dissesse que é preciso ser “profissional em viver”. Na verdade experiência é um teste feito normalmente em um laboratório para poder ou não comprovar alguma coisa, experiência de vida é fazer vários testes em um laboratório maior chamado vida.
Atualmente tenho me relacionado, não por opção minha, com pessoas que já se dizem experientes, que sabem o que fazem, que por terem trabalhado e estudado tem um conhecimento maior sobre a vida. Porém são estas mesmas pessoas que eu vejo gritarem e agredirem verbalmente o filho só porque este esqueceu a toalha molhada em cima da cama. Dizem também que os mais velhos são mais experientes por que já viveram mais, não concordo com isso. Tem certos idosos que se acham os sabichões, que chegam a ficar sentados na praça conversando com o engraxate (pois, por experiência, sabem que todos são iguais e não fazem distinções), mas que são os primeiros a quase quebrarem o pescoço quando vem uma menina bonita passar, sem falar nos que quase deixam a dentadura cair quando tentam assobiar para elas.
Tenho só 17 anos e muitos acham que não sei o que estou falando por ser muito nova, mas ao meu entender experiência de vida é saber que independente da idade ainda temos muito que aprender como diz minha avó que já tem 91 anos “Eu vou morrer e não vou ver de tudo nessa vida.” Experiência, para mim, é acima de tudo saber que nada como um dia após o outro. É saber que tudo que vai um dia volta e que por isso não devemos cuspir para cima. É saber calar quando às vezes temos vontade de gritar aos quatro ventos algumas verdades que os sabichões de plantão precisam ouvir. É saber agradecer por todas as graças a nós concedidas. Experiência a meu ver é ter paciência para esperar o dia de amanhã e descobrir o que iremos aprender com ele. Não que por saber dessas coisas eu me ache uma pessoa de muita experiência, na verdade eu sei que vou morrer e não vou ver tudo nessa vida.

domingo, 7 de novembro de 2010

Destino


Sempre ouvi dizer que quando algo tem que ser pra gente vai ser, não importa como, onde, nem quando. Simplesmente será. Se formos parar para analizarmos as coisas esse é um modo realmente positivo de pensar. Ruim mesmo é quando queremos muito algo, queremos tanto que chega até doer, mas como não tinha que ser acabou não sendo. Aí não adianta fulano falar 'O que tiver que ser, será.' nessas horas não adianta nada. Eu sempre acreditei que se não for pra gente escorregar na casca da banana podemos andar por aí tranquilamente que nunca chegaremos nem perto do tombo. Bom, hoje eu estou aqui, de braços abertos, esperando que 'o que tiver que ser pra mim' venha ao meu encontro. Surpresa: nada acontece. Nunca ninguem disse que seria fácil, mas alguns disseram que seria 'o destino'. Não é o destino, não é destino quando saimos de casa toda arrumada e conhecemos alguém legal na festa. Você passou horas no salão pra fazer seu cabelo não ficar parecido com um ninho de rato, gastou tantos litros de água que com eles dava pra matar a sede de todo Maracanã lotado, comprou roupas novas, fez uma maquiagem impecável e depois vêm dizer que só encontrou alguém legal para passar a noite por que o destino quis assim. Que mané destino o quê?! Se você não levantar do sofá para pegar um copo d'agua ele não vai ir parar no seu colo simplesmente por que era o destino de vocês ficarem juntos para sempre. Faça o que tiver que fazer para ser como você quer que seja e não como tiver que ser.

sábado, 11 de setembro de 2010

Alma tempestiva


Enquanto o seu sangue é derramado no cálice eu não tiro lição nenhuma daqui. Deixe que os ventos soprem, levando tudo o que quiserem de mim. Só me pertencem aqui meus velhos sapatos de guerra. As outras porcarias podem ir para o lixo junto com você. As flores que nascem no jardim foram semeadas há tanto tempo, que agora a única coisa que sentirá o seu perfume é o cadeado do portão, que nos traz até aqui. Sua estupidez deixou de me comover a uma semana e os olhares caem sobre mim como caem sobre as estrelas. Eu vim até aqui e não estou pretendendo voltar. As minhas chaves estão na mesa da cozinha, a mesma, onde costumávamos jantar antes do meu amante chegar à cidade. O trem parte em duas horas e minhas malas vazias estão no hall de entrada. Os cachorros latem para as sombras que me aguardam lá fora. Os espectros me conduzirão em paz. O isqueiro que ganhei da minha avó no meu aniversario de 13 anos acende o último cigarro que irei pitar antes de partir. Estão jogados no quintal minha meia calça e meu terninho preto, dentro da minha bolsa estão o meu batom e esmalte vermelhos. Espero que vocês não se importem, mas estou bebendo o uísque direto do gargalo. Um rock pesado não pára de passar na minha mente e eu me pergunto de onde ele vem. O som dos trovões dá ritmo aos meus pecados, embalados aqui por causa de toda a confusão que pretendo começar. O cheiro de gasolina do posto pelo qual estou passando, ofusca o cheiro dos caminhoneiros que assobiam por me verem desfilar. Eu me esbanjo com a falta de classe que todos fingem não ter. Com o delineador borrado por causa da chuva, me tranco no banheiro esperando alguém aparecer. Mesmo com a tempestade que cai lá fora, eu consigo escutar os pneus da Ferrari cantando. É hora de ir. Hoje vamos celebrar a nossa falta de sorte, que me fez encontrar frente a frente o buraco da minha doce e inebriante alma. Eu e o silêncio impregnado naquelas paredes de pedras, podemos até ver que iremos nos dar muito bem. Perco-me andando pelos corredores tanto quanto me perco nos lençóis. O vazio encontrado naqueles espelhos combina com o vazio que hospeda a minha alma desde aquele último inverno. Os gatos comeram todos os pássaros que cantavam por aqui, até as empregadas tentam não se aproximar. Enquanto milhares de pessoas chegam para jantar, eu vejo suas almas refletidas naquele espelho da entrada. Os seus olhos mostram o que elas esconde ao passar pela porta, eles não mentem como mente a sua boca. Eles jogam sobre a mesa todas as suas angústias interiores, pois o medo que essas pessoas têm de perder o que por direito não é seu é maior que a vontade de lutar.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Curvas


Com o coração na garganta, quase me sufucando sigo em frente. Apesar de meus erros e da minha angústia por ter uma única mentira na mão, eu não peço perdão. Rastejando, vagando, indo vagarosamente em direção a sua presa com a mesma cautela em que valsa pelo salão. Nunca o contemplamento das estrelas será absoluto, uma pequena falha sempre existe escondida por entre as nuvens. Um defeito tão grande que atrapalha toda a perfeita harmonia dos traços que definem o horizonte. Com tantas linhas retas e seguras para seguir, não entendo essa paixão avassaladora pelas curvas com sinais de alerta.

domingo, 27 de junho de 2010

Sem volta


Suja, moribunda e descrente é assim que se caracteriza a vida de alguém, que como eu, usa de seus mais belos sorrisos para comer, beber e se saborear conforme sua vontade. Pelo menos é assim que as pessoas 'batalhadoras' gostam de descrever o impróprio cotidiano dos que se libertam dos ideais e fazem tudo a sua vontade, afinal o mundo ainda é dos vivos e me desculpem os mortos, santos e fracassados, mas os vivos são pecadores que ousam provar dos mais amargos pecados que se escondem na noite negra de inverno. Nem a lua se atreve a sair de trás das nuvens, os únicos vistos perambulando por aí são os insanos que negam a si mesmos os direitos comuns de um cidadão, pois estes não pertencem a lugar nenhum para terem suas almas julgadas no céu. O que eles possuem que é tudo menos alma, já está no inferno tendo uma conversa de perto com o traidor vermelho que por mim tanto chama.
Eu nego o direito de me lamentar a mim mesma, eu sempre uso de todos os ataques e artimanhas para ser o que nunca pude. Estou aqui sentada ao lado de um senhor com óculos fundo de garrafa e armação grossa, ele deve ter aproximadamente 75 anos, seus cabelos grisalhos e sua falta de movimentação não me deixam parar de pensar que esse velho combatente de guerra sabe muito e não compartilha nem uma migalha de suas experiências em campo. Sua mente parece estar em qualquer lugar menos ali, enquanto a minha mente tenta se ocupar em invadir a dele. O olhar vago desse senhor deve ser voltado ao seu passado, sua glorias e derrotas, o meu não seria assim tão diferente.
As palavras que aquela fria escritora disse em entrevista não me saem da cabeça, "Sou filha do trovão e da chuva, e conseqüentemente meus filhos nascem da incerteza que eu tive sobre a origem dos meus próprios pais.", se ela não fosse tão ladra de emoções e seus textos não fossem tão recheados de segredos sobre sua vida e suas mentiras eu até teria a honra de procurar dentro do meu interior forças para compreendê-la.
Vendo as pessoas passarem a minha frente com um destino traçado eu me protejo com um guarda-chuva do dilúvio crescente que está caindo e não me dou o prazer de ser como o céu que por tudo o que existe para fora. Seria tão obscuro tentar me lembrar da noite anterior que apenas me levantei e comecei a ir a qualquer lugar, tentando inutilmente me assemelhar aos demais engravatados, estava seguindo para um lugar que faria os telespectadores depressivos e incompreendidos acharem que tenho vida ao invés de um muro cheio de guardas.
Amanhã já estaria longe das ruas que me lembravam meu passado ensurdecedor e como agora nem ao menos preciso deitar-me para ser paga minha próxima parada seria Cuba. Uma cidade cheia de revolucionários rebeldes me faria bem, quem sabe algum deles pode descobrir como saciar minhas vontades, pois só não tive que ensinar ao último como mentir para sua mulher por que sua mulher se juntou a nossa dança sobre o meu lençol de 1000 fios de seda. Ela sim era uma mulher de verdade, do tipo que todos deveriam se curvar ao ver passar, ela é umas das mulheres que já teve seu nome pronunciado pela boca do mais lindo e inoportuno amor no auge de um grito noturno. Ela é o motivo que faz a nossa escritora querer morrer e provavelmente é o seu pior pesadelo, pois uma mulher por mais feliz que ela minta ser sempre tem vontade de se olhar no espelho e voltar a ser tudo o que sempre foi antes de ter que largar seus sonhos para chegar onde está agora.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Perdida entre seus laços


Era uma fria e chuvosa sexta-feira de junho, eu estava, como de costume, trancafiada em casa. Onde os sons da escuridão se confundem com os sons da sua alma. Os gritos escorrem pelas minhas mãos e o silêncio cálido da floresta esconde-se pelo chão. Não deixe que o barulho vindo do exterior entre. Navegue entre os inoportunos e inóspitos lugares da vida, porém não demore muito por lá. A turbulência dos acontecimentos aqui aumenta a cada manhã, o vazio luta para dar as costas. A hipocrisia já está na mesa, pode sentar-se e aproveitar o jantar enquanto os sorrisos podres percorrem o lugar. No canto, intocável, quase sem ar, só encontra fôlego para suspirar com seus olhos 'Corra o mais rápido que puder para o lugar mais distante que conseguir alcançar.'.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Sem registros

Não entendo como tudo pode fluir, ou não, de acordo com um determinado assunto. Os pratos sujos estão dentro da pia há mais de um mês e as roupas sujas ninguém quer lavar. A inércia presente no recinto deixa a poeira se alojar entre os móveis, as únicas habitantes do lugar são as sombras. Eu continuo correndo, fugindo e me escondendo em qualquer lugar. Os rastros são todos apagados e os contatos mortos, só permanece alguns escombros do terremoto passado. Em pensar que pisei nessas ruas e larguei tudo o que tinha por lá. O enjoô vem e vai sem dar nenhum sinal verdadeiro, há anos não durmo mais sob os lençois de luxo e nem uso mais as pérolas que me davam. O título de 'princesinha' foi jogado na sarjeta para quem quiser pegar. As velhas sapatinhas se perderam na grama durante aquela longa caminhada até a outra ponto do orvalho. Rumo a lugar nenhum sem nada nos bolsos além de coragem, eu parti. Tudo fora deixado de lado e um abismo desmoronou quando pulei o muro e troquei de nome. Sentada em um longo divã, a única lembrança que levo é uma tatuagem, o resto já foi tudo jogado no lixo.